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História da Maçonaria no Brasil

Entre farpas e textos (parte 2): O GOB contra ataca e declara que Irmãos do Supremo Conselho são traidores, hipócritas e anti-maçônicos

Anteriormente aqui no Blog, repliquei um manifesto do Supremo Conselho do Rito Escocês publicado no “Jornal do Commercio” em 11 de março de 1928 , e conforme prometido estou publicando a réplica do Grande Oriente do Brasil (GOB) que foi veiculada em seu boletim referente aos meses de março e abril de 1928. Como disse anteriormente, o conteúdo aqui exposto não tem a intenção de causar mal estar, promover ódio ou reavivar picuinhas e sim fazer-nos refletir e aprender com os erros do passado. 

Como de costume, mantive a grafia original dos textos que estarão em itálico e meus comentários estarão em negrito para não confundir. Vale salientar que meus comentários não estão tomando partido de “a” ou “b”, servindo apenas de apoio baseados em documentos e fatos históricos. Agora vamos ao trabalho!

 

PROTESTO JUSTO

 

Não posso, nem devo calar, no íntimo de mim mesmo, o protesto que me inspira uma publicação estampada no Jornal do Commercio , de 11 de Março de 1928, publicação de antigos devotados ao Grande Oriente do Brasil contra o referido Grande oriente a expressão tradicional da Maçonaria em terras brasileiras. Se os meus olhos não contemplassem a lamentável publicação, talvez puzesse eu em duvidas a existencia desse manifesto de sentimento anti-maçonicos. Quem quer que seja poderia dizer contra a benemérita instituição do Brasil… Mas quem viveu sob as abobadas do Grande Oriente, em que ainda se ouvem as vozes de José Bonifácio, de Quintino Bocayuva, de Glycerio de Vicente de Souza e de muitos outros excelentes maçons, deveria sentir-se como traidor da fé, que nos confraterniza, além de traidor da propria Patria, negando antigas convicções maçonicas e patrioticas, em face do Brasil e de todo o planeta. Como dizer que o Grande Oriente do Brasil “não é mais um corpo maçonico se não no nome”?E, aliás, o dizer-se que não é mais importa na alli – nstção que já foi¹. A verdade é que nunca deixou de ser um perfeito corpo maçonico, e continúa como a lidima (legítima) expressão da Maçonaria em nossa patria. Como então, deante do publico, se assegura que o Grande Oriente do Brasil “affronta todas as proibições das leis, usos e tradições maçonicas”?!… Como deante do público, se vem proclamar que o Grande Oriente Oriente do Brasil “é apenas um Club com rótulo de maçonaria”?!

Capa do Boletim do GOB. Imagem proveniente do Museu Maçônico Paranaense.

Nem se declare que a regularidade do Grande Oriente resultou do apoio que lhe dera a elle o Supremo Conselho. A regularidade do Grande Oriente do Brasil está. antes de mais nada, na obediencia desse Grande Oriente ás leis da Maçonaria Universal. O mais veio, depois: a obra de Montezuma, quando se fez realidade, já encontrava a construção immorredoura (imortal) que se chama Grande Oriente do Brasil. 

De fato, o Grande Oriente do Brasil já existia antes da instalação do Supremo Conselho, e como eu comentei anteriormente foi fundado de forma fidedigna, afinal a Loja Comércio e Artes estava sob os auspícios do Grande Oriente Português, quando ela se dividiu em três Lojas para a fundação do Grande Oriente do Brasil ainda em 1822.

De maneira que não é esforço de irmãos, mas de adversarios da Maçonaria o manifesto de 11 de Março de 1928.

E isso é o que se deve communicar, não ao mundo profano, porém á Maçonaria Universal, afim de que se não confunda o joio com o trigo, o mal com o bem, a virtude com a audacia, a verdade com a mentira.

O argumento do autor deste texto se baseia na discrição que a maçonaria tem por costume, mas não é difícil de imaginar que Behring não queria só alcançar os seus partidários, se fosse assim, ele faria uma circular interna para o Supremo Conselho e as Grandes Lojas fundadas por este, mas talvez a idéia fosse abranger a todo maçom que lesse jornal, podendo arregimentar mais partidários para a sua causa.

Mario Behring foi Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil de 1922 a 1925 e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito de 1922 a 1933. Imagem do site do GOB.

E dentro em as nossas Officinas trabalhamos todos pela pureza da fé maçonica, integrando os bons maçons na esphera dos seus deveres. Lá fora, no mundo profano, guardemos a linha de creaturas educadas, não arregaçando as mangas para lutar com quem tanto faz descer o terreno em que se peleja pela cultura e pela fraternidade. As questões maçonicas merecem (ser) resolvidas na Maçonaria. a cujas leis devemos obedecer.

Quando lá fora se procura evitar a desharmonia, a desordem, a confusão, é triste, é muito triste que maçons deixem os seus templos para se degladiarem no mundo profano, augmentando assim a confusão e a desordem geral, a desharmonia na patria e em todas as patrias.

No Brasil – não é demais dizel-o – a Maçonaria é o Grande Oriente do Brasil, tudo é a mesma secular Maçonaria Universal em que os iniciados nos segredos da Arte Sublime não trazem nos labios a palavra irmãos, hypocritamente ou por simples cortezia, porém se julgam legítimos irmãos, creaturas que, pelo mais nobre sentimentos, apenas têm essa ambição : querem ser uteis á Família, á Patria, á Humanidade.

Assim, que prossigamos em nossos labores, mas lamentemos que antigos soldados do Grande Oriente do Brasil estejam lá fóra, desertores que elles são do mesmo Grande Oriente do Brasil, ostentando a indisciplina de que se constituem exemplos condemnaveis, qui sob a abobada estrellada dos nossos templos e no mundo profano sob o ceu da patria, ceu tão azul e illiminado. Mas aos nossos irmãos de cada recanto do planeta falemos toda a verdade, patenteando-lhes os desacertis desses que, homem, ao nosso lado, disseram bem do Grande Oriente do Brasil, e que, hoje, tado esquecem, até o juramento com o qual se arrolaram sob as columnas do Grande Oriente do Brasil, não querendo comprehender esses máos que tamanha solução de continuidade no proceder de cada um delles traduz doentia incoherencia. exprime dolorosa realidade demaior anarchia cerebral, caracteriza desobediencia innominavel, tão grande é a falta de consideração, o flagrante desrespeito ao crédo  de que se julgam sectarios, crédo por cuja estabilidade ou solidez se elles comprometteram com o juramento, affirmação de honra, promettendo todos elles morrer pela instituição dentro na qual se cultuam os melhores sentimentos humanos, como por exemplo, a sinceridade, a lealdade, a fraternidade. É acção revolucionaria que se não compadece com a figura de maçon, essa mesma solução de continuidade. Mas no Grande Oriente Brasil não pregamos senão a paz. De maneira que somos a ordem, a ordem fecunda, e elles nada mais representam que a desordem, tanto pertubaram a tranquilidade do nosso ambiente e lá vão esforçando-se na obra satanica² dessa desordem, pretendendo no mundo profano continuar a essa obra entristecendo destarte (assim) a todas as almas bem nascidas, sejam ou não do mundo maçonico.

 

Otávio Kelly, Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil de 1927 a 1933. Imagem do site do GOB.

De qualquer modo, á guelque chose malheur est bon (traduzido do francês: quem escolheu o infortúnio é bom)… Os máos irmãos correram impulsionados pelos próprios erros e aqui deixaram os dedicados á nobilissima causa da Maçonaria universal. Seguem elles, como Judas de outra epoca, a curva do destino que lhe aguarda. E continuemos, nós outros, firmes, inabalaveis com as nossas convicções e em derredor do querido Grão Mestre, o magistrado de mãos limpas e de coração também limpo, o Dr. Octavio Kelly (Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil), brasileiro dos mais altos pela inteligencia e pela cultura, véro maçon que no momento consubstancia (fortalece) os ideaes do Grande Oriente do Brasil.

 

Rio, aos 12 – 04 – 1928

 

Moreira Guimarães” 

José Maria Moreira Guimarães, Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil de 1933 a 1938. Imagem do site do GOB.

José Maria Moreira Guimarães na época em que escreveu esse manifesto não figurava no quadro da alta administração, mas o mesmo assumiu o Grão Mestrado do GOB de janeiro de 1933 a novembro de 1938.

 

Conclusão:

Percebemos que o teor do texto de réplica do GOB, através do Irmão Moreira Guimarães, teve em seu teor apenas aspecto moral, não refutando as acusações do texto do Supremo Conselho, nem apresentando dados ou documentos que fundamentasse a sua defesa, apenas negando a sua irregularidade e condenando de muitas maneiras o texto oriundo do Supremo Conselho. Por este motivo não coube muitos comentários, pois não cabe a mim fazer juízo de valor.

 

 

Notas

¹ De acordo com o contexto, cremos que quis dizer “Não é mais importante para a nação como já foi.”.
²Esperamos do fundo do coração que esta palavra tenha sido utilizado em seu sentido literal, ou seja, de adversário.

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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