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Benedita, A Filha dos Bodes (Parte 2)

Na parte anterior desse conto… Benedita, uma escrava ainda na infância foge de seu feitor para não ser obrigada a trabalhar doente, e neste interim acaba conseguindo abrigo em uma Loja Maçônica chamada Lealdade e Brio onde Umbelino, o cobridor, se propõe a protegê-la, mas para isso deverá primeiro convencer os seus Irmãos, já que houve uma indisposição com o Martim que logo foi resolvida graças ao pulso firme do nosso velho herói. Se não leu ou quer recapitular, acesse a primeira parte a seguir: Benedita, A Filha dos Bodes

Continuando…

BENEDITA, A FILHA DOS BODES (PARTE 2)

Por Cloves Gregorio

– Desculpe meu cobridor. Foi a força de expressão profana do qual parte do meu espírito ainda está embebecido – disse Martim sem graça, pois realmente não era seu feitio esse tipo de atitude, mas também nunca tinha sido colocado a em uma situação dessa, e por mais que já estivesse praticando a Arte Real a alguns anos, algumas impressões preconceituosas ainda fazia parte de sua alma. Sentindo-se arrependido continuou, só que agora voltando as palavras a menina – Desculpe a minha truculência nas palavras. Meu Irmão Umbelino me colocou no lugar, não acontecerá novamente.

– A grande verdade Martim – disse Umbelino antes que a menina se pronunciasse, então respirou forte e continuou – é que um homem só mostra o que é quando colocado à prova, mas você é novo, tem tempo de aprender.

Martim continuou olhando fixo para a menina esperando a resposta dela, pois não conseguia encarar o cobridor.

Tudo bem. – assentiu a menina mais calma. Segurando a caneca de ferro um pouco trêmula ainda, levou a boca com as duas mãos e deu mais um golinho no café que aos poucos ia aquecendo seu coração. Passara ha pouco um susto, mas isso era quase nada em relação aos maus tratos que recebia de seus “donos”.

Umbelino sabia que Martim não era má pessoa, mas como todos, não está isento de falhas. Porém o velho cobridor após o ocorrido sabia que assim como Martim, outros irmãos poderiam ter uma atitude negativa de pronto e caso fosse necessário leria as preleções do ritual até convencer todos do correto.

Um burburinho já tinha começado a se formar dentro da Sala da Loja, então Martim perguntou a Umbelino em forma de sussurros:

– Meu Irmão,  o que eu falo?

– Diga que eu verifiquei, e a nossa entrada está devidamente lacrada e segura de intrusos. Então peça para suspenderem a sessão, pois eu adentrarei o templo com nossa visitante em caráter de urgência para lhes colocar uma situação para ser decidida ainda hoje.

Martim pediu um minuto e adentrou o templo. Não demorou dois minutos e voltou pedindo que Umbelino entrasse com Benedita.

Umbelino convidou Benedita para entrar, então a menina colocou a caneca que estava bebendo apoiada no fogareiro, ajeitou o capuz sobre seus ombros e o fechou na frente cruzando os braços, pois ainda estava com frio, então se colocou um passo atrás do cobridor experiente, que passou o braço esquerdo pelo ombro da mocinha e rompeu o templo como de costume. A Loja estava em recreação, mas o obreiro nunca perdia o costume.

O ambiente era costumeiro para Umbelino, mas tudo era muito novo para Benedita que olhou tudo muito atenta. O cheiro do incenso inebriava o lugar. Era um cômodo de cor azul, o assoalho de uma madeira rústica e lustrada era iluminado por uma lâmpada a óleo em um altar triangular bem no meio do recinto. Este altar ainda suportava um pesado livro fechado. A esquerda dos ingressantes tinha algo parecido com um tablado de madeira com dois degraus que suportava um homem com as mesmas vestes de Umbelino. Ao correr aos olhos rapidamente pelo ambiente todos estavam vestidos iguais, eram uns 15 homens ao todo. A direita, na altura do meio da sala tinha outro tablado com uma mesa e um homem atrás dela. E bem aí fundo, um homem que parecia ter estima venerável, estava sentado em uma cadeira robusta em madeira com a forração em um vermelho vivo. Tinha uma mesa a sua frente cheia de papeis e um castiçal de prata brilhosa. Todo o aparato e o homem se encontravam em cima do que parecia um tablado ainda maior, com três degraus e uma grande mesa. Este homem que parecia coordenar os outros e não tinha mais que seus trinta anos. A luz proveniente do castiçal o iluminava bem ressaltando seus cabelos negros lisos e curtos, barba rala, algo como uma cicatriz no queixo, e em seus olhos contiam um brilho especial que Benedita não soube explicar.

Os outros homens por não estarem tão próximo as luzes, quase não dava para reparar em suas feições. Exceto um gordo de barba Branca e aparência asquerosa que estava sentado em um mesa bem menor a frente e mais a esquerda. Este tinha uma vela iluminando bem seu rosto enquanto parecia fazer contas e anotações.

– Meu amado Irmão Umbelino, que situação seria tão urgente a ponto de interromper nossos trabalhos? – perguntou com respeito e admiração o homem atrás da mesa com o castiçal.

Continua…

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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