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História da Maçonaria Geral

Um Poeta Profano em defesa da maçonaria portuguesa

“As Ordens iniciáticas estão defendidas, ab origine symbolili, por condições e forças muito especiais que as tornam indestrutíveis de fora.”

Fernando Pessoa

Antes propriamente de entrar no assunto, vamos inseri-lo no contexto da época. Era nos idos de 1933 e assim como no Brasil, Portugal teve um período que se chamou “Estado Novo”, que por sinal lembrava bastante o modelo que se instaurou em terras tupiniquins com Getúlio Vargas. Segundo o Site Uol Educação (2009), em Portugal, O “Estado Novo caracterizou-se como um período autoritário, nacionalista, tradicionalista e corporativista. Em razão disso, é comum encontrarmos autores que associam o fascismo italiano ao salazarismo.”.

Como relatado anteriormente por este Blog, Getulhão mandou fechar a Maçonaria no Brasil e não foi diferente nas terras de “Seu Manuel”. Durante o “Estado Novo” português, Um Deputado chamado João Cabral em 19 de Janeiro de 1935, em Assembleia Nacional apresentou um projeto de Lei que visava a extinção das sociedades secretas. Logo nossa Augusta Fraternidade estava inserida neste contexto.

Para saber mais sobre a relação de Getúlio Vargas e a Maçonaria acesse: Curiosidades – Você sabia que Getúlio Vargas mandou fechar a Maçonaria Brasileira?

O site Freemansory Review (2012), transcreveu parte do discurso antimaçônico do citado deputado, proferido em 05 de abril de 1935 em Assembleia Nacional do qual reproduzirei abaixo.

“Eu sei de Estados que a não toleram. Estados de características idênticas ao nosso: Estados fortes, autoritários, norteados apenas pela noção firme do bem comum e, assim, sei que a Maçonaria foi exterminada pelo Estado fascista que declarou incompatível com a sua própria existência. Nós temos uma doutrina e somos uma força, disse Salazar, e das mesmas fronteiras, com a doutrina e com a força da Maçonaria“.

Imagem de José Cabral discursando na inauguração das instalações da Legião Portuguesa, sede da extinta Maçonaria, em 18 de Dezembro de 1937 (foto ANTT). Disponível em: https://www.maconariaportugal.com/images/conteudos/pdf/fernando_pessoa_em_defesa_da_maconaria_b.pdf. Acesso em Julho de 2017.

 

Em contra partida, Fernando Pessoa (Esse mesmo, aquele poeta famoso) redigiu um texto em apoio a nossa amada fraternidade que foi publicado no “Diário de Lisboa”, do qual transcreverei a seguir alguns trechos que considero essenciais para o entendimento do contexto:

“Apresentou o projeto o sr. José Cabral, que, se não é dominicano, dever a sê-lo, de tal modo o seu trabalho se intrega, em natureza, como em conteúdo =, nas melhores tradições dos inquisidores. O projecto, que todos terão lido nos jornais, estabelece varias e fortes sanções (com excepção de pena de morte) para todos quantos pertençam ao que o seu autor chama ‘associação secretas, sejam quais forem os seus fins e organizações’

Dada a latitude desta definição, e considerando que por ‘associação’ se entende um agrupamento mais ou menos permanente de homens, ligados por fim comum, e que por ‘secreto’ se entende o que pelo menos parcialmente, se não faz a vista do publico, ou, feito, se não torna inicialmente publico, posso, desde já denunciar ao sr. Jose cabral uma associação secreta – o Conselho de Ministros. De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente. Se não reúnem em público os conselhos de ministros, também não o fazem as direcções dos partidos políticos, as tenebrosas figuras que orientam os clubs desportivos, ou os sinistros comunistas que formam os conselhos de administração das companhias comerciais e industriais.(…)

Feito assim o meu pequeno presente de meia luz, entro diretamente no que verdadeiramente interessa – as consequências que adviriam, para o paiz, da aprovação do projecto de lei do sr. Jose Cabral. Tratarei primeiro das consequências internas.

A primeira consequência seria esta – coisa nenhuma. Se o sr. Jose Cabral cuida que ele, ou a Assembleia Naciona, ou o Governo, ou quem quer que seja, póde extinguir o Grande Oriente Lusitano, fique  desde já desenganado. As Ordens iniciáticas estão defendidas, ab origine symbolili, por condições e forças muito especiais que as tornam indestrutíveis de fora. (…)”

Imagem do Jornal Diário de Lisboa com texto “Associações Secretas”, por Fernando Pessoa em 4 de Fevereiro de 1935. Disponível em: https://www.maconariaportugal.com/images/conteudos/pdf/fernando_pessoa_em_defesa_da_maconaria_b.pdf. Acesso em Julho de 2017.

Fernando Pessoa, um poeta esclarecido e sem ligação com a maçonaria, redigiu esse texto, sóbrio e sem fanatismos desmistificando o perigo de se ter a Maçonaria em solo Português. Inclusive pontua consequências ruins para o país caso o projeto de lei fosse aprovado.

Infelizmente o Projeto foi para frente e em 21 de maio de 1935 virou a lei nº 1901. Além do encerramento das atividades, as associações tinham que entregar listas de todos os seus associados e quaisquer outras informações solicitadas pelo governo. O Grande Oriente Lusitano ainda teve sua sede confiscada e cedida a Legião Portuguesa.

A maçonaria portuguesa, esmagadoramente representada pelo Grande Oriente Lusitano adotou medidas, tais como a triangulação para sobrevivência da Obediência. Segundo o Site do Grande Oriente Lusitano nos informa que durante os Anos de clandestinidade, a Maçonaria Portuguesa chegou a ficar com apenas seis Lojas.

Após anos a fio e uma economia minguada em relação ao restante da Europa, Oficiais portugueses, derrubaram o regime de estado Novo. Podendo assim a Maçonaria lusitana tomar fôlego e seguir com força e vigor.

Referências

Imagem de capa – Fernando Pessoa. Disponível em: https://www.revistapazes.com/content/uploads/2016/03/fernando_pessoa-603×336-1200×627.jpg. Acesso em Julho de 2017.

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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