Categorias
História da Maçonaria no Brasil Não categorizado

Um Breve Relato da História de Amor Entre os Batistas, os Protestantes e os Maçons

Contrariando o pensamento de alguns líderes protestantes contemporâneos em solo nacional, a Igreja Protestante (evangélica) nem sempre foi inimiga declarada da Maçonaria, pelo contrário, lutaram lado a lado em favor da Liberdade Religiosa.

“Conheceis a Verdade, e a Verdade vos Libertará.”
Jesus Cristo

Contrariando o pensamento de alguns líderes protestantes contemporâneos em solo nacional, a Igreja Protestante (evangélica) nem sempre foi inimiga declarada da Maçonaria, pelo contrário, lutaram lado a lado em favor da Liberdade Religiosa. Buscando incessantemente a verdade, tentando entender qual o pensamento ligava a filosofia Maçônica com a protestante achei um artigo no Caderno de Estudos Maçônicos – Antologia Maçônica, onde o autor Ambrósio Peters nos diz que:

A maçonaria era reduto dos intelectuais que buscavam um ambiente onde pudessem expor suas ideias a coberto das ações dos governos autoritários e das interveniências da igreja católica através de sua inquisição. Também aí encontravam interlocutores a altura para seus diálogos em torno de suas ideias inovadoras. Os recintos reservados das lojas eram o lugar ideal, protegidas contra os intolerantes e contra a nefasta ignorância ativa da maioria dos homens públicos.” .

Bem, se pensarmos que antes da explosão do protestantismo, estes também foram perseguidos por pregarem a busca da verdade nas escrituras sagradas e por serem considerados progressistas, era muito comum que um maçom fosse protestante. Agora que traçamos um elo, vamos aos fatos históricos que comprovam essa teoria.

Lá fora a história nos apresenta inúmeros reverendos e pastores dessa nova denominação cristã que pertenceram às nossas fileiras, e o mais famoso deles creio que seja James Anderson. E aqui no Brasil houve algum?

No site da Igreja Metodista (2015) em matéria sobre a História da Maçonaria diz que:

Segundo o historiador Martin Dreher , em 1863, os Maçons conseguiram que fosse aprovada a legalização do matrimônio dos não católicos”.

Imagem do decreto de 17 de abril de 1863 regulando registros de casamentos, nascimentos e óbitos de pessoas que não professavam a religião do estado (catolicismo). Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao6.html. Acesso em maio de 2019.

O artigo não dá mais detalhes de quem foram, mas nos diz ainda que “Em 1864, obtiveram autorização para que fosse publicada a ‘Imprensa evangélica’.”. O Livro Handbook of Freemasonry editado por Henrik Bogdan e Joannes Augustinus Maria Snoek, em livre tradução nos traz informações valiosas acerca do assunto.

“O Brasil nos dá outro exemplo. O crescimento do presbiterianismo e protestantismo brasileiro foi paralelamente acompanhado pela ideia liberal. Foi no seio das lojas maçônicas que protestantes americanos encontraram pessoas disposta a ajudarem a fundamentar as congregações presbiterianas e metodistas. O primeiro missionário presbiteriano foi o reverendo Ashbel Green Simonton (1833 – 1867), que chegou ao Brasil em 1859 e encontrou em São Paulo cerca de 700 protestantes. Ele supervisionou a organização formal da primeira congregação (igreja presbiteriana do Rio de Janeiro). Depois de negociar com uma Loja Maçônica, os presbiterianos foram convidados a se encontrar na sala de conferências maçônica no Rio de Janeiro (acredito que um auditório, ou a própria sala da Loja). Mais tarde, os maçons também ajudaram a criar Igrejas Calvinistas (bastian 1944). Entre 1873 e 1875, o brasil encontrou-se dividido por uma profunda crise entre a igreja católica romana e a monarquia. Alguns sacerdotes liberais deixaram a igreja católica romana para se tornarem protestantes”

Segundo Armando Araújo (2017), em seu  artigo “Os jornais evangélicos e a formação da mentalidade protestante no Brasil (The evangelical journals and the development of the protestant mentality in Brazil)”  Simonton fundou o Jornal “Imprensa Evangélica“, e como vimos acima, tinha ligações com a maçonaria a época. Não podemos afirmar que era maçom, mas que pelo menos a fraternidade deu suporte para seu serviço missionário.

A ligação da Igreja Presbiteriana com a Maçonaria pode ser reforçada com uma confissão do Reverendo Álvaro Reis, pastor da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro no início do Século XX em entrevista a João do Rio, que relata uma cisão em detrimento da ligação desta igreja com a maçonaria:

Talvez entre os de casa não existisse essa harmonia há bem pouco tempo… É simples. Na última reunião do Sínodo Presbiteriano houve, uma cisão que se refletiu francamente na igreja do Rio. Um membro do concílio imaginou que a maçonaria fazia pressão nas deliberações do Sínodo, propondo logo que a igreja banisse do seu seio a heresia maçônica. Não era verdade a pressão. O concílio discutiu largamente e aprovou a seguinte resolução.

“O Sínodo julga inconveniente legislar sobre o assunto!” A tolerante aprovação deu em resultado separarem-se sete ministros, que formaram uma igreja independente e antimaçônica. À nova igreja ligaram-se ex-membros da nossa.

Ainda sobre a imigração de protestantes no Brasil, com o advento da Guerra Civil Americana (1861 a 1965), muitos deixaram os EUA, principalmente família sulistas e vieram para o Brasil. Sendo de fé protestante continuaram com suas convicções em seu íntimo, o que impulsionou a disseminação dessa “nova” modalidade de fé.

Vamos ressaltar agora os precursores da Igreja Batista no País. Segundo Prober (1986) um grupo de famílias oriundas do Alabama, embarcaram para o Brasil em 1968. Em 1871, esse grupo de imigrantes, na cidade de Santa Bárbara d’Oeste em São Paulo, foi responsável pela fundação da Primeira Igreja Batista no Brasil, sob a gestão do maçom Richard Ratcliff. Esse grupo sob a liderança do Coronel Norris que foi Grão Mestre da Grande Loja do Alabama, mais tarde fundaria também a Loja maçônica Washington Lodge com carta constitutiva de 1874 do Grande Oriente Unido do Brasil. 

Imagem dos membros da Washington Lodge reproduzida por Kurt Prober em seu Boletim “A BIGORNA”, N° 56 de 1986. Em pé da esquerda para direita: William Terrel, Robert Daniel, Bony Green, Henry Scurlock, Henry Clai Norris, Marsene Smith, e Robert Cícero Norris. Sentados: Junius N. Newman, Coronel William Noris, Robert Porter Thomas (Pastor Batista que veremos sua relevância a seguir) e John Domm.

O Site da A:.R:.L:.M:. Indústria e Caridade Nº49 de Friburgo, Rio de janeiro nos esclarece que cerca de oito batistas que compunham a loja, pelo menos cinco foram fundadores da igreja em Santa Bárbara também, e que entre esses estava o Pr. Robert Porter Thomas. Em 1879 foi fundada a Igreja da Estação pelo Pastor Elias Hoton Quilin. Em Julho de 1880 foi feito um concílio reunindo essas duas igrejas com a finalidade de consagrar Antonio Teixeira de Albuquerque, um ex-padre. Esta reunião teve como seu cerimonialista o irmão e Pr. Thomas no Salão da loja maçônica. É isto mesmo que acabaram de ler o primeiro Pastor Batista Brasileiro foi consagrado em um templo maçônico por um maçom.

Salomão Ginsburg (1867 – 1927)Imagem retirada do site Museu Virtual Batista do Sertão disponível em: http://www.museubatistadosertao.org/igrejas.html> Acesso em setembro de 2016.

Salomão Luiz Ginsburg foi outro ícone Batista que muito fez tanto pela igreja, quanto pela nossa Augusta Ordem. Além de ter sido o primeiro editor do “Cantor Cristão”, fundou a loja maçônica Auxílio à Virtude em julho de 1894 na cidade de São Fidelis no Rio de Janeiro, e a primeira igreja batista da mesma cidade 25 dias depois.  Ainda conseguiu a proeza de construir o Primeiro Templo Batista do Brasil que em sua própria autobiografia declara que teve o auxílio de seus irmãos maçons. Para a minha surpresa este nobre homem e irmão foi o primeiro Pastor da Primeira Igreja Batista de São João de Meriti, cidade em que resido.

Existem inúmeros outros casos de ligações entre os evangélicos e a maçonaria aqui no Brasil, mas como a idéia desta pequena exposição é condensar as informações de modo a não ficar cansativa, terminaremos por aqui. Como a maçonaria, o protestantismo não tem um representante específico, e a única posição oficial que consegui achar foi a da igreja metodista que diz:

O Colégio Episcopal da Igreja Metodista tem uma Carta Pastoral tratando do tema, na qual afirma que a Igreja sempre manteve relações respeitosas com a maçonaria. Mas alerta que nenhum envolvimento com instituição, qualquer que seja, deve afetar o vínculo e o trabalho com a Igreja.”.

Este texto não foi elaborado com qualquer intuito de ofender ou desmerecer o protestantismo, pelo contrário, foi de dar alento aos irmãos que pertencem a essa denominação e são julgados por isso e aos simpáticos da Ordem que talvez se sintam culpados por ter uma boa relação conosco.

Notas: Os Batistas não se consideram protestantes, por isso foram separados no título do texto.

Quer saber mais sobre a História da Maçonaria no Brasil? Vagas abertas para um aulão sobre o tema em Brasília!
Para contratação da aula em sua cidade ou mais informações em: [email protected] ou 21-965036345.

Referências:
RIO, João do. As Religiões no Rio. eBook. Editora Oblic. 2014.
Site da Igreja Metodista. Disponível em: https://www.metodista.org.br/historia-da-maconaria. Acesso em Janeiro de 2022.
Site da Loja Indústria e Caridade Nº49. Disponível em:  https://industriaecaridade49.com.br/index.php/artigos-lmic/36-a-1-igreja-batista-do-brasil-foi-fundada-por-macons. Acesso em 2017.
Site Lagoa do Barro. Disponível em: https://www.lagoadobarro.com.br/canais/papo-gospel/351-a-maconaria-e-o-cristianismor-macons. Acesso em 2017.
PETERS, Ambrósio. Cadernos de Estudos Maçônicos – Antologia Maçônica. A Trolha, 1996. pág. 184.
OLIVEIRA, Betty Antunes de. Centelha em Restolho Seco – Uma contribuição para História dos Primórdios do trabalho Batista no Brasil. Edição da Aurora, Rio de Janeiro, 1985. pág. 363.
BORGES, Hugo; CAVALCANTE, Sérgio. Rito York: O Simbolismo. Gráfica e Editora Imprell, João Pessoa, 2008. Pág. 282.
GINSBURG, Salomão Luiz. Um Judeu Errante no Brasil. 2ª Edição, Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1970. Pág 258.
SILVESTRE. Armando Araújo. Os Jornais Evangélicos e a Formação da Mentalidade Protestante no Brasil. Disponível em: http://m.revistaacademicaonline.com/products/os-jornais-evangelicos-e-a-formacao-da-mentalidade-protestante-no-brasil/. Acesso em maio de 2019.
BOGDAN, Henrik. SNOEK. Joannes Augustinus Maria. Handbook of Freemasonry. Brill Academic Pub. 2014. PROBER. Kurt. “WASHINGTON LODGE” – N° 309, SANTA BARBARA (DO OESTE) – SP. A BIGORNA, Paquetá. 1986.

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *