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História da Maçonaria no Brasil

Quando uma “Gripezinha” mobilizou a Maçonaria em prol do próximo

A gripe espanhola, foi uma pandemia denominada de influenza, que afetou cerca de 1/3 da população mundial. Estima-se que esse surto tenha matado entre cinquenta e cem milhões de pessoas no mundo (NEVES SILVA). No Brasil não foi diferente, só no Rio de Janeiro, acredita-se que 600 mil cariocas tenham sido infectados e a cifra de mortes tenha chegado a 15 mil (GOULART).

Assim como hoje em relação ao Coronavírus (COVID-19), na época parte da população foi levada a acreditar que não haveria motivos para alarde, inclusive a mídia enxergava e influenciava seus leitores a tratar o assunto como jogada política, como poderemos ver a defesa da pesquisadora  Adriana Costa Goulart (2005) a seguir:

“Para muitos jornalistas, assim como para uma grande parcela da população e dos grupos políticos de oposição ao governo Wenceslau Braz, o combate à moléstia era tomado inicialmente como pretexto para a intervenção na vida da população. As doenças epidêmicas, no decorrer da história, foram influenciadas por fatores políticos e sociais, afetando diferentes grupos de pessoas e desfraldando uma gama de respostas.”

Apesar da 1° Grande Guerra, diversos países, de forma a proteger a população e frear a disseminação do vírus,  entraram em regime de quarentena, restringindo aglomerações e fechando estabelecimentos comerciais e centros de difusão cultural, estando inclusas reuniões Maçônicas. Como poderemos ver a seguir em informativo da Grande Loja de Colúmbia veiculado  no Jornal Washington Post em 8 de outubro de 1918.

“A todos os órgãos maçônicos do Distrito de Columbia: Antes da notificação oficial, estou autorizado pelo Oficial de Saúde a anunciar que, devido à prevalência da gripe espanhola no distrito de Columbia, as reuniões de todos os corpos maçônicos serão interrompidas até novo aviso.”

A. W. Johnston
Grande Secretário

Voltando ao Brasil, GOULART (2005), ainda nos informa em seu artigo que a Cidade do Rio de Janeiro beirava o colapso. Faltava tudo, desde alimentos até medicamentos e hospitais que acolhesse doentes graves. Não obstante a escassez de insumos básicos, comerciantes superfaturavam os preços de remédios e alimentos. 

Nesse cenário pandêmico, a Maçonaria brasileira, através das Lojas e do Poder Central do Grande Oriente do Brasil, não suspenderem seus trabalhos, mas auxiliou o governo no trato e prevenção da doença, assim como assistiu as camadas mais baixas da sociedade. Para fundamentar essa afirmação, eu colhi informações nos boletins do Grande Oriente do Brasil de outubro de 1918 a janeiro de 1919, ao qual farei uma síntese a seguir.

Em outubro de 1918 o Grande Oriente do Brasil (GOB), através de seu boletim oficial passou a divulgar informações e ações deste organismo em prol do alívio das vítimas acometidas da gripe espanhola. Neste número é anunciado a contratação de dois Médicos Maçons para assistirem a todos os membros da fraternidade adoecidos, assim como farmacêuticos para providenciarem os medicamentos indicados. 

Externamente, através da “Sociedade de Philantropia Maçônica”, o GOB cedeu ao governo, através do Médico Sanitarista  Carlos Chagas, dois salões na localidade do Méier a fim de ser instalado um hospital de campanha. Quando em funcionamento, a Loja Maçônica Cayrú que ficava ao lado, cedeu suas  instalações para acomodar os profissionais de saúde que atuavam no hospital.

No mesmo boletim, anunciava que a Loja Architetos de Bauru, suspendeu suas sessões, e cedeu o espaço para criação de um posto médico para o atendimento da  população carente.

No Boletim de novembro do mesmo ano além de reafirmar os atos anteriormente tomados pela obediência, notificou que diversas oficinas fizeram ações de alívio para as vítimas do vírus, desde doações a fundações de novos hospitais . Destacou também a doação de 250 mil Réis do Irmão Mexicano Frederico Garrigós ao GOB para as ações de combate ao vírus, assim como a doação de 2 milhões de Réis feito pela Loja e Capítulo Imparcialidade e Caridade ao governo federal para as vítimas da epidemia.  

Em Dezembro de 1918 noticiou na íntegra a ações de seu braço em São Paulo, desde a criação de uma “comissão executiva de socorros”, assim como a criação de postos médicos, desinfetações de cortiços e doações de remédios para atender a população carente. Conforme transcrição a seguir, ainda foram distribuídos vales que davam direito a alimentação a população que foi atingida economicamente devido ao vírus.

“A ação da maçonaria não foi somente socorrer as vítimas da gripe e auxiliar os poderes públicos – Cujos os esforços se conjugaram com a iniciativa particular, em debelar o mal – A ação da Maçonaria, como íamos dizendo, voltou-se também para aqueles que a epidemia lançou em extrema penúria, privando-os de seu pão cotidiano, pela absoluta falta de recursos, enfim, para aqueles que ficaram sem trabalho, devido a paralisação de todos os serviços. Para esses necessitados, além de lhe serem feitas diversas distribuições de cartões, que lhe davam direito a adquirir mantimentos e gêneros de primeira necessidade, em determinados armazéns da capital.”

Nesse mesmo boletim foi dado destaque a  ações no Rio de Janeiro, Sergipe, Acre e Pará.

Em janeiro de 1919 o boletim noticiou a campanha Rio Grandense,  com a criação de um posto de socorro, além de auxílio à população carente, distribuindo remédios, e itens de necessidade básicas. Ao final, os irmãos gaúchos apresentaram um quadro de despesas que totalizou 22 milhões e 493 mil réis.

Conclusão
Devido a conjuntura da pandemia que se desenrola atualmente, convido-os a olhar para a Maçonaria do passado e refletir se estamos fazendo tudo o que podemos em auxílio dos menos favorecidos que nós. Não, não estou dizendo para você sair da quarentena e colocar em risco a sua vida e principalmente as das pessoas do grupo de risco, mas sim auxiliar como pode, desde transferência de valores para projetos que favorecem pessoas carentes, a fazer compras para pessoas debilitadas. Existem muitas formas de ajudar e mesmo assim continuar respeitando o isolamento social.

Referências:

Museu Maçônico Paranaense. Boletins do Grande Oriente do Brasil.

GOULART, Adriana da costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. 2005.

RULI, Chris. Grand Lodge of DC’s Response to the 1918 Influenza Epidemic. 2020

NEVES SILVA, Daniel. GRIPE ESPANHOLA. 2020 

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

Uma resposta em “Quando uma “Gripezinha” mobilizou a Maçonaria em prol do próximo”

Muito bom, Cloves! Parabéns pela pesquisa! É triste quando alguém pega uma pesquisa tão trabalhosa e espalha sem dar os devidos créditos. Não desanime, continue assim, valoroso irmão!

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