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História da Maçonaria no Brasil

O Discurso de um Padre Maçom que ajudou a Proclamar a República

Queridos Leitores e Irmãos,

Devido à hoje se tratar de uma data histórica, trouxe mais um presente para vocês. Como vimos anteriormente a Proclamação da República aconteceu por três principais fatores, que são eles a questão da escravidão, dos militares e a questão religiosa; Esta ultima causada por um desconforto entre a Igreja católica e o império. Esse desconforto teve seu estopim no dia 02 de março de 1872 em uma solenidade maçônica com o discurso do Irmão maçom e Grande Orador Interino do GOB, Padre Almeida Martins em homenagem ao Visconde de Rio Branco, então Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil por promulgar a Lei do Ventre Livre. Desde 1738 já existiam bulas papais proibindo católicos ao ingresso na Maçonaria e como a cerimônia acima descrita foi de conhecimento público, o Bispo do Rio De Janeiro D. Pedro de Lacerda acabou sabendo e exigiu que o Padre Maçom se afastasse da Ordem, sendo que o mesmo recusou pois para as bulas papais terem validade em solo brasileiro, deveriam ter o placet do Império como exigia sua constituição. Logo nós tínhamos uma igreja católica que não tinha certo tipo de poder sobre seus sacerdotes, causando assim ulceras no clericato e desconforto com o governo.

Voltando ao presente. Hoje eu tive o prazer de transcrever na integra e com o português original da época o fatídico discurso do Irmão Padre Almeida Martins. Meus comentários estarão em negrito de forma a não se confundir com os escritos originais. Boa leitura e espero que gostem!

Para saber mais amplamente sobre a Proclamação da República leia: Um Passeio pela História da Maçonaria no Brasil (Parte 5) – Proclamação da República

“Glória a Deus, Supremo Architeto do Universo

FORÇA E VIGOR, PAZ E FRATERNIDADE AO ALTAR E ÁS COLUMNAS.

SAPIENTÍSSIMO E PODEROSO GRÃO MESTRE

Não compendia ao obscuro orador a subida honra de saudar neste momento aquelle altar, que traduz a mais nobre idéias e os mais generosos sentimentos. Esta missão, cuja as magnitude é superior à singeleza de minha palavra, pertencia antes aos inteligentes operários, que com a mágica eloquencia de seu verbo inspirado têm sabido erguer ao mais alto grau de luz as grandes idéias da civilização e os generosos princípios da justiça.

Falle, porém, a humildade diante da opulência do talento.

Erga o discípulo a voz na grande, na esplendida assembleia dos mestres; e que a benevolência de tantos e de tão ilustrados cavalheiros proteja o obscuro orador.

E esta benevolência me é necessária, porque solemnissimo é o momento.

Eu tenciono ler a mais gloriosa das páginas que nos fastos da humanidade se tem escripto no século XIX.

Ao coração e á inteligência não é grata esta página; porque ella, pertencendo á generosidade, ao talento e ao civismo do illustre Grão Mestre da Maçonaria Brasileira, transmite à posteridade o nome deste benemérito cidadão, proclama a gloria da nossa sublime Ordem e recommenda ás bênçãos de Deus a aos aplausos do mundo o império do Cruzeiro!

Apóstolos da civilização, aos maçons cumpre render homenagem á grandeza que deve sua existência á moralidade e ao mérito e não á lisonja da penna ou da palavra ou do genio prostituido.

Filhos desta democracia que se-regenera pelo estudo e pelo trabalho, pela moralidade e ela confraternização, nós desprezàmos os louros conquistados nas luctas de sangue que flagellam a humanidade.

Nós desconhecemos esta gloria ephemera, que desapparece com os últimos aplausos das multidões em delirio.

Nós, finalmente, não admitimos legitimidade nesse poder com que os déspotas, quer sentados nos thronos, quer nas cadeiras republicanas e quer mesmo ajoelhados diante dos altares da religião, se-proclamam senhores da terra.

(Aqui ele deu porrada no império, nos republicanos que queriam a dissolução do Império e na Igreja, ou seja, atirou em todo mundo!)

E que amigos da humanidade e querendo della constituir uma só família, os maçons só reconhecem a gloria que não morre, o poder que não opprime e a religião que pelo amor nos dá a posse de Deus.

(Deu uma relembrada no que consiste o cristianismo, afinal ele era um padre).

E firmes e crentes neste princípios, os maçons têm atravessado os seculos e erguido, como anjos tutelares do progressoe da civilização, as columnas dos seus templos em todas as partes do mundo.

A verdadeira gloria não se-encontra em Julio Cezar, ao sol que illuminou a esplendida batalha de Pharsalia, e muito menos na soberba cadeira de dictador; o legitimo poder não se-encontra diante do heróe de hontem, tendo uma grande nação à mercê de sua espada e enguendo-se altivo sobre um throno de despojos e de armas de seus inimigos; a fraternidade não se-encontra tambem nessas teorias subversivas que ao sinistro clarão dos incêndios insultam e envergonham a liberdade, expondo-a na praça pública sem fé, sem esperança e sem caridade, sem honra e sem moral; e Deus não pode finalmente ser encontrado nos altares que reputam a liberdade uma profanação, a razão uma heresia e o amor um crime.

Que! O mundo que lá fóra se-agita nos-diz que em tudo isto neste poder há gloria.

Que importa?

Julio Cezar foi grande no meio de seus exércitos, e entretanto no dia de hoje nenhuma só lagrima abençoa a sua memória.

E quanto aos demais?

Esses, uns caíram amaldiçoados por todos quantos têm alma para penar e coração para sentir; os outros hão-de ficar sepultados nas ruinas do seu próprio poder, que se-firma sobre ossada de mortos, argamassadas com as lagrimas dos órfãos, das viuvas e das populações inermes.

(Creio que aqui ele se refere a Solano Lopes, que até então não era considerado herói popular, tendo sua sepultura a uma cova rasa levando o Paraguai a ruina deixando o país com milhares de viúvas e órfãs).

É que eles são estatuas de grandeza aparente e não resistem á mais simples analyse da razão e do bom senso; é que elles procuraram a gloria nos louros manchados de sangue tinasdo pela ambição; é que elles, finalmente, converteram em galas para si próprio o lucto, o soffrimento e a miséria dos vencidos!

Só Deus é grande, illustrada assembleia, e depois de Deus é só grande a virtude.

Salve pois aquelles que, empenhando em suas officinas o malhete da sabedoria, moralisam o povo com a virtude do trabalho, inspiram-lhe com a palavra e com o exemplo o amor da dignidade e da honra, unindo-o em abraço fraternal e dirigindo-lhe a intelligencia  na contemplação do ello, derramam ondas de luz em honra de Deus e dos altos principios da humanidade.

Honra aqueles que conquistaram a immortalidade pela virtude, porque só as obras que a virtude põe a mão, disse um grande orador, são immortaes; por ellas passa a morte desarmada, o tempo lhes-inclina reverentemente a fronte encanecida pelo gelo dos seculos, e a posteridade as-recebe como herança que lhe-pertence, porque a posteridade só acceita o que escapa á lima do tempo e o que resiste aos golpes da morte.

Salve, finalmente, aquelles que sabem vingar os direitos da natureza, apagando da fronte do homem o ferrete ignominioso e sacrilego da escravidão e fazendo brilhar nessa fronte a luz três vezes sancta da liberdade.

Segue-se daqui que, verdadeiro e realmente grande é o nobre Visconde do Rio Branco, que com sua palavra inspirada, com o seu vigoroso talento, com a generosidade de seu coração e com a coragem heroica de seu patriotismo escreveu na bandeira da pátria, nos estandartes maçonicos e no livro da civilisação americana a divina palavra – LIBERDADE. –

Era tempo, Veneráveis Irmãos , que a Maçonaria, nesse paiz abraçasse grandes idéas não só em relação ao futuro do império como também á grande causa da humanidade. É incontestavelmente uma missão generosa o dar esmolas aos pobres; mas é nobre e glorioso o resgatar os direitos da natureza e tornar uma realidade a religião de Christo, soberano e divino mestre que no templo do Calvario, templo universal, officina mysteriosa de um coração immenso, provlamou a liberdade e prégou a igualdade segundo as leis da aptidão e da justiça.

(Nessa época a Maçonaria fazia forte campanha a favor da abolição da escravidão, como pode ser visto na matéria: Um Passeio pela História da Maçonaria no Brasil. (Parte 4)

A liberdade, mostrando e fazendo sentir ao homem a grandeza de seus direitos e a gravidade de seus deveres, produz a moralidade e a virtude que são os mais sólidos fundamentos das sociedades bem constituídas. Nos paizes em que a escravidão é uma realidade, a caridade e a fraternidade constituem uma mentira, e o progresso e a civilização são palavras sem expressão, sem valor e sem sentido.

Sejamos francos; estamos entre irmãos.

Debalde o brasil se-esforçava para se-alistar e occupar um logar honroso entre as nações mais civilisadas, em vão ele apresentava ao mundo o seu systema de governo como altamente liberal, o genio de seus filhos, a fertilidade de seu solo e a riqueza de seu commercio para tomar entre os povos a posição a que tinham direito os seus elevados destinos; inutilmente emfim se-ostentava o Brasil, sábio no remanso da paz e heroe e invencível nos campos de guerra . a escravidão ahi estava como tristissima herança do passado, desmentindo a sabedoria dos seus códigos, a magnanimidade de seus filhos, o progresso de sua civilisação e escurecendo-lhe os horizontes do futuro.

O Brasil era considerado barbaro perante a consciência moral do gênero humano, porque homens, que nasciam neste paiz, eram propriedade viva, eram entes animados, machinas em logar de agentes, escravos em vez de cidadãos.

É que o sol do Ypiranga não iluminava a fronte dos infelizes que regavam com o suor e as lagrima de todos os dias as florestas virgens da américa!

Mercê de Deus, a luz foi feita.

A um Maçom competia impor silencio ás paixões, demonstrando com a sua palavra inspirada tudo quanto há de grande, de sagrado e de civilisador nesse magnetismo sublime, nesse magico poder que enleia as almas, nesse osculo de fraternidade com que o mestre traduz ao romper da luz a anctidade das doutrinas maçonicas.

Salve, pois, três vezes o illustre Visconde do Rio Branco, benemérito da pátria e da humanidade; gloria ao grande cidadão que á frente de uma pleiade brilhante de generosos brazileiros, que comnosco se-assentam nos bancos da fraternidade, soube mostrar ao mundo que o império do cruzeiro respeita o seu glorioso passado, trabalha em pról do honrado presente e que tem fé e crenças no seu lisongeiro futuro.

Esta solenidade com que os homens livres saúdam a grandeza e a fidalguia que devem sua existência ao mérito e á virtude; esta solemnidade que constitue um hymno em honra da civilisação e da liberdade; esta solemnidade finalmente, em que todos os sentimentos generosos se-agrupam para render homenagem a um homem, falla mais alto que a eloquencia humana em prol do grande cidadão que acaba de gravar o seu nome nos porticos da immortalidade.

O obscuro orador não fez um discurso; quis lêr apenas uma página que no memorável dia 28 de setembro de 1871 foi escripta na historia da civilisação. E a pagina está lida, e ella constitue o elogio de grande homem que hoje recebe aplausos do Grande Oriente do Brasil, que em nome de Deus, da razão e da natureza o-proclama benemerito da pátria e da humanidade.

(Só se for uma página de Itu, pois eu transcrevi muita coisa, com o corretor tentando me trollar a todo momento! tem coisa pra caramba!)

Viva o illustre Visconde do Rio Branco!”

Referências:

Imagem de capa retirada do site fabianomartatobias, Disponível em: https://fabianomartatobias.com.br/category/dominusvobiscum. Acesso em novembro de 2016.

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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