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História da Maçonaria Geral

Gomes Freire de Andrade: pequena exposição de sua vida profana e maçônica

Gomes Freire de Andrade, filho de diplomata português, nasceu em 27 do janeiro de 1757 em Viena. Formou-se aos 23 anos nesta corte e em Praga. SANTOS (2019) indica que Gomes Freire “frequentou três universidades alemãs, doutorando-se em Direito”. Em 1780, além de condecorado Professo da Ordem de Cristo, foi iniciado na Loja Maçônica Zur gekrönten Hoffnung.

Gomes Freire de Andrade, filho de diplomata português, nasceu em 27 do janeiro de 1757 em Viena. Formou-se aos 23 anos nesta corte e em Praga. SANTOS (2019) indica que Gomes Freire “frequentou três universidades alemãs, doutorando-se em Direito”. Em 1780, além de condecorado Professo da Ordem de Cristo, foi iniciado na Loja Maçônica Zur gekrönten Hoffnung.

Pintura de Gomes Freire

Em 1781 chegou em Portugal, ingressando no ano seguinte na carreira militar como cadete. Em matéria ao Diário de Notícias, FERREIRA (2020) exalta sua atuação militar falando de seu prestígio e condecorações junto a Catarina, a Grande, pelos Prussianos, em Portugal devido a sua exímia participação na Guerra das Laranjas e junto a Napoleão em suas campanhas pela Europa.

Segundo SANTOS (2019):
Durante o trajeto para Portugal, filiou-se em França na loja maçónica La Bienfaissance, de Lyon, onde figura no quadro de 1782, como conde Gomes Freire, comendador da Ordem de Cristo, residente em Lisboa, com o grau de Mestre Escocês.”

Em 1801, mesmo ausente, Gomes Freire cedeu o Palácio do Calvário, sua propriedade, para uma reunião de maçons, onde acredita-se ter sido formada a primeira organização maçônica portuguesa, que mais tarde resultaria na criação do Grande Oriente Lusitano.

Em Portugal, acredita-se que pertenceu ao quadro da Loja Regeneração e foi Venerável Mestre desta em 1807. Enquanto estava fora, em campanha, ingressou no quadro de uma Loja militar Portuguesa chamada Chevaliers de la Croix em Grenoble (comuna francesa).

Após participação na Guerra Peninsular, Gomes Freire retorna vitorioso para Portugal em 1814. Em 1816 foi proposto e eleito do Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano.

Envolvido em um pensamento liberal, contra a influência inglesa e uma monarquia absolutista, Gomes Freire encabeçou a Conspiração de 1817, também conhecida como “Conspiração de Gomes Freire”. Devido a este fato, foi detido e condenado a morte por enforcamento.

Conspiração de 1817

Foi um movimento político português que tinha como objetivo dar um golpe de estado, que inicialmente, se obtivesse sucesso, seria governado por uma junta militar provisória e depois empossariam um novo monarca institucional com menos poderes. Esse movimento foi resultado da insatisfação política portuguesa com Dom João VI, pois atribuíam a crise econômica em que o país estava vivendo a ausência do monarca, que estava governando do Brasil e seus regentes em Portugal, além de estarem insatisfeitos com a presença do marechal inglês William Carr Beresford, comandante chefe do exército português. Os lusitanos aspiravam ainda uma monarquia que não tivessem bases absolutistas e que o Brasil retornasse ao status de colônia, e não mais reino unido.

SANTOS (2019) nos informa o seguinte sobre a crise:
“Se o povo, na sua generalidade, não gostava dos Governadores do Reino, regentes em nome do príncipe e depois rei D. João VI, o seu desgosto e “desafeição” incidia sobre a pessoa do Marechal William Carr Beresford, comandante chefe dos exércitos portugueses, como informava um relatório da polícia de 29.03.1817.”

GRAINHA (1912) também comenta o seguinte sobre esta conspiração:
(…)Um grande descontentamento grassava então em surdina nos nossos oficiais e atingia igualmente várias outras pessoas de diferentes classes, cujo coração ardia por amor da glória e da honra do nome português. Sentia-se que o País sossobrava numa situação desencorajante e quase inqualificável. O rei vivia no Brasil, que estava promovido à categoria de Estado, e Portugal era governado praticamente como uma colónia daquele. Por outro lado, Beresford comandava o nosso Exército como se fôssemos uma colónia inglesa.

Isto irritava o espírito público; o espírito da conspiração ardia em vários cérebros e só faltava um homem de acção para dirigir o movimento. Esse personagem estava indicado desde 1814, data do seu regresso a Lisboa: era Gomes Freire d’Andrade. E foi assim que ele adquiriu grande força moral entre os seus compatriotas.”

A conspiração foi rapidamente dissolvida e os 12 réus, entre eles Gomes Freire, foram julgados e condenados sem o devido processo legal, como uma punição exemplar.

Em matéria ao Diário de Notícias, o militar Luís Bernadino diz que:
“o general Gomes Freire de Andrade se evidenciou não só pela forma como viveu, mas também pela forma como morreu. Sendo alvo de inúmeros interrogatórios, viria a ser sumariamente acusado e lavrada sentença de acusação, vindo a ser acusado de liderar uma conspiração contra o absolutismo vigente, é sentenciado à forca, tendo sido executado por enforcamento, pelas cinco horas da manhã do dia 18 de outubro de 1817, fora da Fortaleza de São Julião da Barra”. Não lhe permitiram usar nem o uniforme e foi-lhe cortada a cabeça, o corpo queimado numa fogueira e as cinzas lançadas ao mar.”.

Pintura: Execução de Gomes Freire de Andrade, por Roque Gameiro em 1917.

Sobre a condição de maçom de Gomes Freire frente a acusação e morte, GRAINHA (1912) nos informa que:
A 25 de Maio detiveram Gomes Freire e onze mártires da Pátria; o primeiro foi enforcado diante da Torre de S. Julião e os outros no Campo de Santana, em Lisboa. O corajoso Gomes Freire, intrépido soldado, que, apesar das instâncias de Napoleão, seu amigo, recusou pegar nas armas contra a Pátria, pereceu num infame cadafalso diante da Torre de S. Julião da Barra, na embocadura do Tejo!!!

Um facto ocorrido na véspera da execução, quando o prisio neiro se encontrava já no Oratório, constitui mais uma prova de que um bom maçon nunca deixa de socorrer um Irmão. Conta-se que Robert Hoddock, coronel inglês, não hesitou, pondo de lado todas as considerações, e com pleno conhecimento do perigo que corria, a procurar o prisioneiro para lhe oferecer a liberdade.

Resignado com a sua sorte, o general não quis sacrificar o seu amigo, e, agradecendo-lhe à mesma, recusou a heróica oferta deste Irmão.”

O movimento tinha aspirações maçônicas?

O livro Anais maçônicos fluminenses (1834) diz que “o Marquês de Campo Maior[1] , perseguiu e condenou maçons lusitanos, vitimando, além de outros, o Benemérito Gomes Freire.”

Capa da Edição de 2022, editado por Cloves Gregorio

SANTOS (2019) nos informa que:
As teses que dão a maçonaria como responsável ou corresponsável pela conspiração de 1817 não se fundamentam em factos concretos históricos, mas apenas em especulações de conteúdo estritamente político-ideológicas, antiliberais e antimaçónicas, que se mantiveram até à atualidade
(…)
Acredita-se que assim como a Revolução Pernambucana de 1817, a Conspiração de Gomes Freire, tenha influenciado na política antimaçônica do Governo português com a publicação do alvará com força de lei de 1818, que proibia sociedades secretas. Mas que no caso da Conspiração de Gomes Freire, a atribuição da maçonaria a este movimento, tenha sido apenas um movimento político por parte dos governadores e igreja portuguesa para combater a moral de liberdade professada no seio da maçonaria.

Referências:
GRAINHA, Manuel Borges, 1912. História da Maçonaria em Portugal. 1735-1912. Lisboa: Editorial Vega. 1976.
SANTOS, Manuel Pinto dos. GOMES FREIRE DE ANDRADE: A MAÇONARIA E A CONSPIRAÇÃO DE 1817. Disponível em: https://www.revistamilitar.pt/artigo/1415##_ftnref2. Acesso em agosto de 2022.
FERREIRA,Leonídio Paulo. Combateu por Catarina a Grande e Napoleão, foi herói português e acabou enforcado. Disponível em: https://www.dn.pt/edicao-do-dia/22-ago-2020/o-general-com-o-coracao-ao-pe-da-boca-12542219.html. Acesso em agosto de 2022.
VEIGA, Francisca Branco. Revolução de 1820. Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/tag/conspiracao-1817/. Acesso em agosto de 2022.
GREGORIO, Cloves. MAÇONARIA TUPINIQUIM: Breve relato da história da maçonaria no Brasil (1789-1889). Birigui, SP: Editora Yod. 2017.


[1] Título concedido ao Marechal William Carr Beresford, comandante das tropas portuguesas.

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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