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História da Maçonaria no Brasil

Barão de Rio Branco – Pequena exposição de sua vida profana e maçônica

Em uma tarde nublada de inverno uma chuva repentina agitava o mar da Baía de Guanabara, em uma casa modesta próximo dali, o vento carregado de água chocava-se contra a vidraça da janela. Do lado de dentro, de frente a janela, uma escrivaninha coberta de livros e documentos espalhados, um jovem escrevia freneticamente a biografia do comandante Luís Barroso Pereira, herói da Prata. Na sala de estar, próximo dali, sentado em uma poltrona o futuro Visconde de Rio Branco dava lufadas de fumaça em seu charuto enquanto abria a correspondência que anunciava que seu filho havia sido aceito na faculdade de direito de São Paulo. 

Essa cena retrata bem o que foi a vida de José Maria da Silva Paranhos Júnior, também conhecido por Juca Paranhos, um jovem elegante, sábio e articulado, que a custa de muito esforço virou sinônimo de diplomacia, dando nome como patrono a uma de nossas instituições mais respeitadas, o Instituto Rio Branco. 

Página de rosto do boletim do GOB de janeiro de 1872.

O futuro Barão nasceu no Rio de Janeiro em 1845, primeiro filho de José Maria da Silva Paranhos, então recém formado como Engenheiro Militar. De infância humilde, militar de carreira, seu pai conseguiu influência no império através da política.

Logo após o nascimento do filho, Paranhos foi nomeado secretário do Presidente da província do Rio de Janeiro, que era Aureliano Coutinho, um antigo companheiro de um clube de ideais liberais, até 1848, quando essa vertente política perdeu poder. Nesse momento acabou saindo da política para imprensa no Correio Mercantil. Com o tempo Paranhos foi de liberal a conservador. Após um curto período lecionando, em 1850 foi assistente do Marquês de Paraná nas negociações do Prata, daí em diante sua carreira na política internacional deslanchou, plenipotenciário em Buenos Aires, deputado pelo Rio de Janeiro, Ministro da Marinha, foi feito Visconde e finalmente presidente do conselho de ministros.

Juca Paranhos gostava mesmo era de história. Em 1861, antes mesmo de se formar, escreveu a biografia de Luís Barroso Pereira, o famoso comandante da Fragata Imperatriz, publicada posteriormente em 1863. Em 1862 ingressou na faculdade de direito de São Paulo. Em 1864 escreveu episódios da guerra do Prata, publicado na revista do instituto científico sob o pseudônimo de “X”. (D’AMARAL, 2003).

O filho do Visconde de Rio Branco durante os anos de estudante em São Paulo, morando em uma república, rapaz de traços finos e beleza peculiar revelou-se um boêmio de mão cheia. Por problemas de saúde agravado por seus problemas emocionais, optou por terminar seu curso em Recife, concluindo o em 1866. No ano seguinte o futuro diplomata tirou a sorte grande, ganhando 12 contos de Réis na loteria escolheu a Europa para desfrutar de seu prêmio. Frequentou grandes centros culturais passando pela Itália, Alemanha, Áustria, França, Inglaterra e Espanha. Ainda não sabia, mas esta viagem contribuiria para seu futuro promissor em sua atuação internacional. 

O dinheiro acabou e foi obrigado a voltar para o Brasil um ano depois. Mesmo formado em direito, este ofício não lhe encantava, então ainda 1868 conseguiu uma cadeira para lecionar como professor substituto de História no Colégio Pedro II até 1869 quando foi destituído do cargo. 

Por influência de seu pai, acabou por entrar na vida pública, eleito deputado pelo estado de Mato Grosso. Nessa época já ensaiava sua vida diplomática. Ainda em 1869 acompanhou seu genitor, então plenipotenciário do Brasil, para a tentativa de negociação de paz em Assunção no Paraguai, no ano seguinte foi empossado como secretário da missão, auxiliando para elaboração de tratado de paz entre Argentina, Uruguai e Paraguai. Após o êxito, o pai de Juca foi feito Visconde de Rio Branco. 

Marie Philomene Stevens

Por essa época, Juca, jovem e de espírito boêmio, frequentador do teatro Alcazar, caiu nas graças de uma atriz chamada Marie Philomene Stevens, romance esse que seu pai não via com bons olhos. (D’AMARAL, 2003). Não se sabe ao certo o motivo, mas a jovem atriz, com então 23 anos retornou a Europa, deixando espaço para que o rapaz pudesse se dedicar novamente a história, assim como outros trabalhos pessoais. 

No Início da década de 1870 foi um tanto agitado para a família Paranhos, afinal o Patriarca tinha sido feito Visconde a pouco tempo, e logo em 1871 nomeado Presidente do Conselho de Ministros.  No ano seguinte Juca foi reeleito deputado e concomitante a agitada vida política, a maçonaria brasileira estava em efervescência.  

Como já relatado antes neste blog, em 1872 existiam duas grandes obediências maçônicas no Brasil, que eram o Grande Oriente do Brasil (GOB), e o Grande Oriente do Brasil ao Vale dos Beneditinos (BENEDITINOS), que tinham em suas lideranças respectivamente o Visconde de Rio Branco, e seu antagonista político Saldanha Marinho. Acontece que ambas as Obediências tinham o reconhecimento da maçonaria portuguesa, que fora unificada em 1869, sendo assim os maçons portugueses sugeriram que se fizesse o mesmo no Brasil. Foi aí que aconteceu a primeira tentativa de unificação em 1872, sob o nome de Grande Oriente Unido do Brasil (GOUB), mas existia um impasse: Quem seria o Grão Mestre? Como ambas tinham seu próprio líder, em comum acordo resolveram fazer uma eleição entre os dois personagens, sendo Saldanha Marinho eleito. Sob justificativa de eleição fraudulenta, o Visconde de Rio Branco considerou nula a fusão e Saldanha Marinho seguiu como Grão Mestre do GOUB. 

Timbres da esquerda para a direita do GOB e do GOUB.

Nesse cenário estavam inseridos os personagens desta pequena biografia, afinal Juca era filho do Grão Mestre do GOB. Pois bem, devido a essa confusão uma Loja Maçônica com mais de cem obreiros chamada “Estrella do Norte”, resolveu sair do GOB e ir para GOUB, porém o movimento foi rapidamente percebido. Em extrato de sessão realizado em 19 de setembro, presidida pelo próprio Visconde de Rio Branco, o mesmo pede a citada Loja uma prancha (ofício) comunicando a exclusão de alguns membros dessa oficina, assim como providências em relação às ocorrências no seio da mesma. 

Lista de oficiais da administração da Loja Maçônica Estrella do Norte para o ano de 1873.

A resposta veio a cavalo e no boletim do GOB de janeiro de 1873 já tinha uma carta de protesto proveniente da Loja Estrella do Norte, datada de 13 de setembro de 1872, negando qualquer intento de ir para o lado de Saldanha Marinho. Mas porquê estamos falando especificamente sobre esta Loja nesta pequena biografia do Barão? Segundo Kurt Prober (198?), Juca teria iniciado nesta oficina em 03 de fevereiro de 1872, porém na carta de protesto não consta o nome do filho do Visconde como signatário. Depois de visitar todo o ano de 1872 e 1873 nos boletins a procura de qualquer vestígio do nome do Barão, lendo cada página e também por busca de palavras-chave, só encontro o mesmo a partir do boletim de fevereiro de 1873, na lista da administração eleita, como Venerável Mestre (presidente) daquela oficina. Após isso temos diversas leituras a favor de Juca, desde o relato de sua posse, a presença em diversos corpos superiores do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), tanto no Rio de Janeiro quanto em Recife.

Prober acreditava que o Paranhos Júnior, percebendo a manobra da Estrella do Rio, impediu que a Loja mudasse para o lado de Saldanha Marinho, porém os fatos relatados nos boletins me fazem acreditar que Rio Branco, após o ocorrido, temeroso de perder uma loja com inúmeros obreiros para a Obediência concorrente, colocou seu filho, a quem confiava inteiramente para dirigir a oficina, e garantir a estadia da mesma. Sobre a sua iniciação, Juca Paranhos em 1903 durante seu discurso de posse como membro efetivo do Supremo Conselho do REAA, declarou “É com maior contentamento que me vejo restituído à maçonaria brasileira, de que me honro de fazer parte desde os meus tempos de estudante, em São Paulo, há mais de 41 anos.”.   

A vida do filho do Visconde estava um tanto agitada, desde 1870 estava como diretor do jornal A Nação, o que lhe deu certo fôlego como escritor e historiador, pois atuava diretamente nesse quesito, além de defender a figura de seu pai, e do império dos diversos ataques dos opositores, inclusive Saldanha Marinho no periódico Diário do Rio. 

No ano de 1873, Juca recebeu uma notícia que o abalou profundamente. Na França, a atriz e sua amante Marie pariu a um filho seu. Paranhos Júnior era um homem sensato e justo, de fato não queria casar, ainda mais com uma moça que sua família não aprovava, mas também não poderia deixá-la à própria sorte, por isso fez com que a atriz belga retornasse ao Rio de Janeiro e a instalou em uma casa na Praia do Cajueiro. (SANTOS, 2018). Uma coisa curiosa é que não achei em canto algum referência a uma praia no Rio Antigo com esse nome, mas as duas biografias que eu utilizei como referência para confeccionar esse texto, citam o lugar com essa descrição. O que mais se aproxima disso na terra de São Sebastião, é a Praia do Caju, que era bem badalada na época. O filho do Visconde era um sujeito honesto, então assumiu seu filho, porém sem se casar com a moça, e a muito custo conseguiu que sua mãe o batizasse, mas a Viscondessa o fez por procuração em novembro de 1874.

Ainda em 1874 nasce Clotilde, sua segunda filha com Marie. Nesse mesmo ano o futuro Barão teve pouca participação na Loja para qual foi eleito Venerável Mestre, pois no boletim de outubro do GOB em texto da Estrella do Norte diz que: 

Sob o malhete do ilustrado e benemérito Irmão Dr. José Maria da Silva Paranhos trabalha a Augusta Oficina Estrella do Norte.

Se os Afazeres de tão ilustrado Irmão não lhe permite Assiduidade aos nossos trabalhos, não só pelos inúmeros trabalhos que pesão sobre seus hombros como legislador e como escritor publico, mas tambem pelos cuidados que um homem publico exige a politica e as letras, nem por isso perde a Estrella do Norte, que no ilustre irmão Rezende, seu digno 1º Vigilante, encontra um perito auxiliar de seu Mestre.

Fragmento do boletim de fevereiro de 1875, frisando a impossibilidade de Juca Paranhos administrar a oficina em 1874.

Assim como uma nova comunicação da Loja no Boletim de fevereiro 1875, que exaltou a conquista do Grau 33 do REAA por Manoel Thiago Ferreira de Rezende, então 1º Vigilante da Estrella do Rio, relatando que o mesmo presidiu a Loja na impossibilidade de Juca. Mesmo assim, Paranhos Junior foi eleito para a administração para o corrente ano, o qual tomou posse 23 de maio conforme relato do boletim de maio de 1875.

O ano de 1875 certamente foi o divisor de águas na vida de Paranhos Júnior, pois com a renúncia de seu pai ao Conselho de Ministros, Juca  estaria “desobrigado” a continuar como parlamentar, sendo assim, se candidatou a vaga que cônsul do Brasil em Liverpool, e por pressão do Visconde junto ao império acabou por conseguir a vaga em maio de 1876. Por esse motivo pede sua “livre filiação” a Loja Estrella do Norte em setembro do mesmo ano.

Pouco antes de ser nomeado, Juca, obedecendo a seu espírito boêmio e aventureiro se apaixona e passa a cortejar Maria Bernardina, sobrinha de Duque de Caxias. Ele não amava Marie, mas no fundo sabia se tratar de sentimento juvenil. Em junho de 1876, o filho do visconde envia Marie para França que acaba por ter seu terceiro filho de Juca em Paris. Cada vez sua situação se complicava mais. Não Amava Marie, a quem em suas cartas a seus amigos confidentes a chamava de “marechala”, mas já estava no terceiro filho com a mulher e mais dois anos depois viria Amélie, sua quarta filha. 

Ainda em 1878, seu pai, o Visconde de Rio Branco vai a Europa, e aproveita para encontrar o filho e visitar os netos. Juca Paranhos tirou uma licença e foi encontrar o pai em Paris, e juntos passaram por diversos países. Durante a viagem o Visconde sentia os primeiros sinais do câncer, uma ferida na boca surgiu e só após intervenção médica, o qual cauterizou a ferida puderam seguir. No ano de 1880, já de volta ao Brasil, Paranhos foi novamente submetido a medicina, e os médicos o operaram, que de fato surtiu efeito, tanto que em maio Rio Branco falou na abertura da câmara. Porém o estado do Visconde piorou, e avisado em Liverpool, Juca veio ao encontro do pai para acompanhar seus últimos dias. Márcio Tavares d’Amaral na biografia do Barão, chega a afirmar que Saldanha Marinho procurou seu desafeto no leito de morte, então se reconciliaram. Dia 1° de novembro de 1880 morria José Maria da Silva Paranhos, o Visconde de Rio Branco. 

O pai, grande parceiro e entusiasta não estava mais para o aconselhar e o favorecer, mas isso foi de um ganho enorme para Juca Paranhos, afinal sua carreira de diplomata, a partir de suas próprias pernas estava prestes a decolar. Em 1883 Paranhos Júnior foi convocado para representar o Brasil na feira de São Petersburgo na Rússia junto ao Czar Alexandre III. Desempenhou o papel tão bem que recebeu o título de Conselheiro.

Durante a primavera de 1885 nascia Hortência, uma nova criança em Paris, e sim, era filha do nosso querido Conselheiro. Em 1887 voltava ao Brasil para resolver problemas de família, afinal, era o “patriarca” da casa dos Paranhos. Ao voltar para Europa teve a ilustre companhia do Imperador D. Pedro II, que fazia a viagem para recuperar a saúde. Juca aproveitou a oportunidade para se aproximar do Imperador, que depois passou a se corresponder frequentemente com o jovem Conselheiro. 

Lembram que eu disse que Paranhos era um boêmio irreparável? Pois bem, sempre que podia se reunia aos amigos Joaquim Nabuco, Eduardo Prado e Rodolfo Dantas, de vez em quando até mesmo Eça de Queirós, todos em Paris, em cafés, ou na casa de algum deles, e curtiam a companhia um dos outros da tarde à noite adentro. Quando não estava com os amigos, estava em sua prisão sem muros em Liverpool. Em seu ofício, sentia-se só, mas ele pagava as contas e lhe dava tempo para que pudesse escrever e pesquisar sobre o que mais amava que era a história. 

Após a abolição da escravatura em 1888, Juca Paranhos recebeu o título de Barão de Rio Branco, como uma espécie de reconhecimento ao trabalho de seu pai, que foi tão incisivo nessa bandeira. Pensou em não aceitar o título, mas mudou de ideia ao ser convencido pelos amigos que seria uma bela forma de lembrar e manter o nome do pai. 

Capa de Brésil (Brasil), volume da Grand Encyclopédie de Levasseur.

Em 1889 realizou uma obra que lhe deu muito prazer, e de certa forma o envaideceu como pesquisador, que foi o de escrever o verbete “Brésil” (Brasil) para a Grand Encyclopédie de Levasseur. É claro que não o fez sozinho, por exemplo teve contribuições de seu amigo Eduardo Prado também, mas seu nome aparece em destaque como o organizador. Essa obra foi um livro separado, mas que fazia parte dos 25 volumes da Enciclopédia e trazia informações acerca da história, geografia, economia e política Tupiniquim.

Ainda em 1889, no mês de setembro finalmente, vencido pelo cansaço ou vergonha, ou até mesmo pena, não se sabe ao certo, o Barão casou com Marie Philomene, a mãe de seus cinco filhos, e a fez Baronesa. A sua melancolia não acabaria por aí, monarquista convicto recebeu a notícia da proclamação da república como alguém atingido por uma seta envenenada. Juca Paranhos não podia deixar seu amigo Imperador desamparado e enviou-lhe uma carta para lhe saber qualquer coisa, e a resposta de D. Pedro II foi “Peço que fique. É seu dever, sirva seu país.”.

Em dezembro de 1891 morre D. Pedro II, figura a quem Paranhos tinha muito se afeiçoado, e muito sentiu. Rio Branco não sentiu apenas pela pompa de ter um amigo Imperador, era assim com todos os seus amigos, sempre encarava a morte dos seus com muita tristeza. Porém seu ânimo teria de voltar, afinal em março do ano seguinte foi sondado a mando do Marechal Floriano para defender o Brasil perante a um impasse em relação a fronteira com a Argentina. O Barão mesmo melancólico aceitou o trabalho, pois sabia que o território era genuinamente brasileiro, e como grande conhecedor da causa por conta de suas pesquisas históricas, e auxílio ao seu pai no Prata, além de talvez ter lembrado das palavras do Imperador o que lhe daria subsídios para trabalhar para um governo ditador que a pouco se instalara no Brasil. 

Os impasses diplomáticos na época, quando não eram resolvidos na “bala”, países mais amistosos subordinavam ao juízo arbitral das Nações poderosas, e esse caso em especial ficou para os Estados Unidos da América (EUA) decidir. Em maio de 1882 o Barão já estava em Washington como plenipotenciário do Brasil. Representando a Argentina o explosivo Dr. Zeballos, que adotou uma estratégia invasiva em todos os sentidos desde o começo, presenteando Cleveland, então Presidente dos EUA e seus ministros. Rio Branco preferia uma estratégia diferente, primeiro dissimulou desânimo, ares de quem já tinha perdido, que foi logo fisgado por seu adversário, que enviou cartas comemorando e comentando sobre o abatimento do Barão, então Zeballos relaxou, enquanto Paranhos se instalou em uma pensão em Nova York, do qual quase não saia, Estudava! Além de enviar seus secretários com sua orientação para pesquisarem os documentos mundo afora. Rio Branco tinha uma teia que se emaranhava pela Europa atrás de cartas, mapas, e tudo que pudesse ajudar no caso. (D’AMARAL, 2003). 

Em 11 de fevereiro de 1894 entregava suas Memórias (defesa) ao Árbitro. Quase um anos depois, 06 de fevereiro seguinte veio a resposta. Decisão favorável ao Brasil! O Barão foi felicitado por todos, inclusive pela Princesa Destronada e seu marido Conde d’Eu. 

Sua fama como um exímio diplomata e pesquisador histórico estava no auge, mas nem só de festa é a vida. A Baronesa Marie, mulher com quem vivia às turras mas que nutria um respeito e carinho, depois de muito adoentada morreu em Janeiro de 1898. Porém, não podia se abater, novamente um novo impasse diplomático se dava nas fronteiras do Brasil desde 1895, dessa vez com uma das potências mundiais, a França reclamava um pedaço do Estado do Pará. Dessa vez o Barão de início não conseguiu a representação do Brasil, mas Gabriel de Toledo Piza. Logo no início Piza, por imperícia foi afastado da missão. O próprio Rio Branco em seu caderno de anotações escreveu dia 04 de agosto de 1886: “Piza diz crassas coisas e refere-se ao governo intimamente convencido de que está brilhando.”. 

Ainda em 1898 Barão foi escolhido para ser o plenipotenciário no caso do Pará, dessa vez o presidente da Suíça seria o Árbitro. Mesmo com o revés da morte da esposa estava sendo um grande ano para Paranhos, pois em 1° de outubro foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. No ano seguinte já em Berna na Suíça trabalhava febrilmente e mais uma vez o resultado foi a favor do Brasil. Paranhos era implacável, tinha derrotado a gigante França e escrevia para sempre seu nome na história da Diplomacia Nacional. 

Na foto, da esquerda para a direita: Hortência, Rio Branco, Raul e Amélie.

Familiarmente o velho Barão agora se preocupava em cuidar bem das duas filhas mais novas, afinal Clotilde já tinha casado e seus filhos estavam de vida arrumada. Em 1901 finalmente foi feito Ministro das Relações exteriores por Rodrigues Alves, e logo se deparou em disputa com a Bolívia pelo território do Acre. Percebendo que o Brasil não teria subsídios para reclamar o território opta pelo tratado de Petrópolis, realizado em 17 de novembro de 1903, o qual o Brasil ficaria com o território, e em contrapartida pagaria 2 milhões de libras e faria uma malha ferroviária para os Bolivianos. 

De Volta ao Brasil, se instalou em Petrópolis, mas todo santo dia descia a serra para se afundar no Itamaraty. Aquela ali era sua casa, trabalhava o dia todo. Chegou a mandar instalar uma cama de solteiro em seu escritório, pois muita das noites passava ali, estudando, consultando, escrevendo, etc. 

Sua vida Maçônica estava bem fria, afinal desde que o homem voltou a pátria, estava sempre afundado em muito trabalho, mas ainda sim em 01 junho de 1903 compareceu a reunião do Supremo Conselho do REAA, o qual pediu a palavra e justificou sua ausência. Em setembro retornou durante outra reunião do mesmo corpo maçônico para ser agraciado com a qualidade de Membro Efetivo. Seu discurso de posse na honraria está disponível no arquivo histórico do Itamaraty.

Rio Branco com seus assessores no Itamaraty por volta de 1911 (Moniz Brandão, Antônio Batista Pereira e Araújo Jorge). Disponível em: https://istoe.com.br/o-barao-indomito/. Acesso em novembro de 2019.

Rio Branco trabalhou ativamente no Ministério das Relações Exteriores até 1912, quando renunciou devido ao bombardeio de tropas federais a Salvador em 10 de Janeiro. Sua saúde também já estava bem debilitada, e no dia 10 de fevereiro do citado ano, morre o Barão. 

Rio Branco teve inicialmente uma carreira política minguada, às custas da influência do pai, mas desde a juventude mostrara em seu ethos um erudito, pesquisador por excelência, que teve feitos memoráveis para a história no Brasil e se consagrou como uma referência para a diplomacia mundial.

Referências:

 

D’AMARAL, Márcio Tavares. A Vida de Grande Brasileiros – Barão de Rio Branco. São Paulo. GRUPO DE COMUNICAÇÃO TRÊS S.A., 2003.

PROBER, Kurt. Catálogo dos Selos de Maçons Brasileiros. Edição Independente. Paquetá. 1984.

Teatros dos Centros Históricos –  Alcazar Lyrique (1859). Disponível em: http://www.ctac.gov.br/centrohistorico/TeatroXPeriodo.asp?cod=75&cdP=19. Acesso em novembro de 2019. 

SANTOS, Luís Claudio Villafane G. Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco. Cia das Letras, 2018. 560p.

Site do Senado Federal. Brésil. Disponível em:https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/518670. Acesso em novembro de 2019.

SANTOS, Affonso José. Barão do Rio-Branco : cadernos de notas : a questão entre o Brasil e a França (maio

de 1895 a abril de 1901). Brasília. FUNAG, 2017.

 

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.