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A Feiticeira do Arco e o Assassinato do Mestre Maçom: Parte Final – A Tapera Maldita

O dia que tinha amanhecido com um sol entre nuvens e banhava a terra de São Sebastião com uma luz opaca, rapidamente modificou-se e o céu agora estava cinza. Jean Fenrir estava em pé em meio a rua perdido em seus pensamentos, “tenho de organizar minha mente”, fechou os olhos, estava estafado, de repente ouviu um grito “Sai da frente imbecil!”, Foi o tempo de retroceder um passo e sentir uma carroça tirar fino de seu corpo. 

– Doutor Felipe! – disse para si mesmo.

A casa de sua madrinha ficava em uma rua conhecida como “detrás da boa morte”, pois os fundos da Igreja de Nossa Senhora de Conceição da Boa Morte ficava nessa rua. Em seus muitos olhares perdidos, antes de partir, contemplou a direita da rua, através de um escampado uma grande obra que edificava um majestoso edifício que iria dar abrigo ao Conde dos Arcos. Jean era um ótimo investigador, mas sua briga diária era com o “foco”, muitas vezes se perdia em pensamentos, impedindo de continuar seu raciocínio, e era isso que tinha acontecido, estava imaginando que se fosse um pedreiro operativo, provavelmente estaria naquela obra, e não envolvido em uma investigação de assassinato…. “Raios! Eu tenho que me ater a esse crime.”. Jean praguejava, e logo pegou rumo a esquerda. A casa de seu amigo e irmão de maçonaria ficava em um cruzamento bem mais a frente. 

Mais ou menos quinze minutos andando durante uma reta, passava agora nos fundos da Igreja da boa morte, em passadas determinadas ouvia-se o som do chacoalhar de sua pistola roçando na bainha da espada, com suor na testa se perguntava porque diabos usava uma grande casaca, então deu uma pequena pausa, tirou um lenço encardido de dentro de um bolso interno da casaca e secava seu suor. Continuou e quando deu por si já estava em frente ao imponente palacete de seu amigo Felipe. 

Um portal duplo de grades e topo arredondado foi facilmente aberto por Jean, pois o mesmo já tinha o costume de visitar o médico e sabia do macete de levantar um pouco o lado esquerdo enquanto destrancava o trinco. O palacete tinha dois andares e tinha um estilo próprio feito especialmente para a família dele. Uma varanda protuberante a frente com um pequeno telhado triangular sustentada por duas colunas brancas sem estilo definido, uma escada a precedia com corrimões brancos, a casa tinha uma coloração rosada e uma torre cilíndrica do lado direito, encimada por um telhado cônico, e a esquerda, o maior pavimento da casa de forma retangular e telhado triangular. Todos os contornos da casa eram brancos. Jean se adiantou subindo os degraus e bateu por algumas vezes na campainha ao meio da porta. 

Esperou por alguns instantes quando ouviu o virar das chaves, ao abrir a porta surgiu um rosto conhecido, era Mamá, uma mulher negra na casa dos 70 anos, trazia um lenço a cabeça e um tapa olho no lado esquerdo. Os poucos frisos dos cabelos que saltavam do lenço se revelavam crespos e brancos. Vestia uma saia e camisa branca, que de tão branca ofuscava os olhos e tinha sobre os ombros um xale de tricô marrom. 

– Ô meu “fi”, Felipinho me contou o que aconteceu, entre, entre! – disse a senhora enquanto se virava e caminhava em direção ao sofá.

– Mamá, eu já não disse que é para a senhora descansar! Não precisava abrir a porta, eu estou descendo. – disse Dr. Felipe descendo as escadas de calças marrons, camisa branca de linho, enquanto secava os cabelos negros com uma toalha. 

– “Ara” Filipinho! “Ieu” já não posso mais abrir uma porta? Já fiz muito mais que isso, e hoje eu sou uma inválida é? – Disse Mamá em tom de indignação.

– Nada disso Mamá, é justamente porque você trabalhou a vida inteira que eu quero que você descanse. – Disse Felipe, agora virando ao seu amigo Jean. – Eu o aguardava Jean, imaginei que me procuraria, afinal tirando os mais idosos da Loja, eu sou o único além de ti que tem sangue para fazer algo. – disse Felipe em tom jocoso. 

– Justamente meu amigo Felipe, justamente meu caro. – disse Jean um pouco mais animado. – Vejo que Mamá está abusando de orientações médicas. 

Jean já conhecia a história por de trás de Mamá. Dona Marta, carinhosamente  era chamada de Mamá por Felipe, pois foi sua ama de leite na juventude, consequentemente escrava de seu pai. Dona Marta sempre foi muito vigorosa, mas também muito maltratada. O pai de seu amigo Felipe, Fernão, era cruel demais com todos os seus escravos e os castigava por nada o tempo todo, inclusive a ferida que cegou o olho esquerdo de Mamá foi causado por ele, o que indignou Felipe quando era jovem, e se não fosse sua avó materna, o doutor tinha atirado contra o pai. Para o alívio de Felipe, seu pai enfartou um ano após o ocorrido, e então com 18 anos alforriou todos os escravos da casa, a Mamá especialmente pediu que ficasse, não para os serviços, mas porque a considerava sua mãe e dali em diante seria tratada assim. 

– Ela está impossível! Mas me conte, como posso ajudar? – perguntou Felipe.

Jean contou tudo o que descobrira naquela madrugada, tanto sobre o diário e a ligação de seu Padrinho com a tal da Barbara, quanto das últimas palavras proferidas por ele em seu leito se morte. Felipe ouviu pacientemente enquanto passava um café para os dois. 

– Quer café Mamá? – perguntou Felipe. 

– Só um dedinho meu “fi” – respondeu Mamá se ajeitando no sofá, enquanto jogava uma coberta sobre os pés. 

– Então Jean, imagino que você queira investigar pelas bandas da cidade nova? Certo? – perguntou Felipe enquanto entregava uma xícara para Dona Marta. 

– Certo!

– Errado! Você não saberia por onde procurar, por onde começar ou a quem perguntar naquelas bandas. – respondeu Felipe, e continuou – O lugar é ermo, e as poucas construções abandonadas, seria como procurar uma agulha no palheiro. Vamos no antro de perdição que é o Arco do Teles, lá alguém há de saber alguma coisa. 

– Felipinho, você tem que casar! Rechear essa casa de netos “portiços” pra mim. – interrompeu Mamá, como de costume.

– Quando eu conhecer uma que me encante sim Mamá – respondeu Felipe, continuou em cochichos para Jean – Velhos! Ainda bem que ela não escuta direito, se não ouviria os gritos de prazer das chicas que frequentam meu quarto. 

– Boa idéia irmão Felipe! – disse Jean quanto ao assunto antes da interrupção de D. Marta. – Vou até lá agora mesmo.

– Espera aí meu amigo, não achas que vai sozinho, me dê alguns minutos que já me apronto. – Disse Felipe.

– Mas pode ser perigoso meu amigo, não quero ter que enterrar mais ninguém. – respondeu Jean.

– Se eu quisesse monotonia não tinha te dado todas essas informações. – Disse Felipe, e continuou – Miguel Antônio era seu padrinho, mas era tão irmão seu, quanto meu. Além do mais, nem pedir ajuda policial neste momento pode, com risco de descobrirem nossa loja. 

Felipe subiu as escadas e pouco tempo tinha jogado uma casaca por cima da camisa de linho e calçava sapatos surrados. Jean percebeu um elegante anel em dedo anelar esquerdo do amigo, e para seu terror tinha um esquadro e compasso gravado nele. 

– O que é isso Felipe? Queres ser condenado a morte? – Perguntou Jean. 

– Meu amigo Jean, quando sairmos pela aquela porta, eu e você estaremos correndo risco de morte devido a nossa demanda. E hoje meu amigo, a fraqueza não invadirá meu espírito! Então se eu morrer, quero ter a honra de pelo menos ser reconhecido como maçom. – respondeu Felipe.

– Justo meu amigo! – Respondeu Jean.

O jovem investigador se adiantou a porta, Fernando foi até Mamá e se despediu lhe dando um beijo na testa que lhe desejou “Vai com Deus meu ‘fi'”, então ambos alcançaram a rua em direção ao arco do Teles. 

Tinha chovido brevemente, e as ruas de pedra tinham poças d’água, o céu já estava escuro, diferente do nublado claro pela manhã. Então Jean e Dr. Felipe se adiantaram para o assombroso Arco do Teles. Para não chamar a atenção não foram pela lateral do paço, e sim por uma viela pela rua Direita. Mal entraram no emaranhado de vielas e perceberam o clima pesado, prostitutas ofereciam seus serviços, que de tempos em tempos adentravam os tenebrosos sobrados com seus clientes, quando não difícil ver casais copulando na própria rua. Ainda via-se soleiras e paredes chamuscada do terrível incêndio que assolou o lugar a mais de duas décadas atrás. O cheiro de amônia proveniente de urina invadiam as narinas, Jean Fenrir esfregava o nariz quando Felipe o indicou com o queixo um homem com cara de patife, cabelos ralos que iam até o ombro, rosto fino e nariz longo, e mantinha umas barba rala por fazer, vestia uma casaca verde maltrapilha, calça azul até a canela, e sapatos velhos. “Eu quero mais dinheiro sua vadia!”, bradou o homem enquanto esbofeteava uma mulher da vida, então a jogou no chão. Claramente era um cafetão. O homem percebeu a presença dos dois maçons e logo os cumprimentou “Bem vindos senhores, se quiser faço essa aqui para os dois pelo preço de um.”, apontando para a moça caída ao chão com uma faca que tinha acabado de tirar do bolso da casaca. 

Felipe tomou a frente, quase que lendo o pensamento de Jean, cobrindo o fato de seu amigo comissário ter sacado a pistola. 

– Não deveria tratar uma dama assim! – bradou Felipe, e continuou rapidamente. – sua família não lhe deu educação? 

O homem tomado por cólera avançou sobre Felipe, colocando a lâmina de sua faca sobre o pescoço do médico e disse. – Você acha que um almofadinha pode vir na minha casa falar o que devo fazer ou como me devo comportar?- disse, mas parou imediatamente ao ouvir o clique do cão de uma pistola, que Jean já a pressionava contra sua bochecha.

– Hoje não infeliz, largue a faca! – disse Jean, se certificando que o homem deixava a faca cair no chão, e continuou. – Você pode definir seu destino, basta nos dar uma informação. Me diga, qualquer coisa sobre a tal da Bárbara, a onça. – disse Jean pressionando mais a arma sobre a bochecha do homem. 

O homem começou a rir quase que insanamente e disse – Não sei qual o tipo de sorte vocês tem, mas essa piranha que acabaram de defender é “chegada” da onça. – disse o homem, que continuou. – Podem fazer o que quiser com ela, eu não me importo.

– Você já não nós é útil! – Disse Felipe pegando o homem pelo colarinho e o jogando de bruços ao chão, em seguida dando-lhe um pontapé na bunda disse – Vai miserável, e não volte até sairmos daqui. 

O homem recompôs-se e correu e direção ao cais. Felipe levantou a moça e acenou para Jean ficar atento, dando a impressão de que ele falaria com a moça. Não se sabe se a mística de que maçons conversam com gestos era verdade, mas ali era claramente o que estava acontecendo. 

Atriz Heather Graham, no papel de Mary Kelly, uma prostituta no filme “Do Inferno”.

– Calma querida, não vamos lhe fazer mal. – disse Felipe de forma meiga para a mulher, que ao se revelar tinha pele clara, olhos verdes, cabelos vermelhos como o fogo, o espartilho saltavam seus seios e afinavam sua cintura. Felipe era facilmente encantado por mulheres bonitas, mas sabia o que estava fazendo ali, então continuou. – Eu não entendo o que um pitel como você faz aliada a um ser esquisito desses, ou a fera da Onça. 

– Senhor, eu não sabia das atrocidades dela, eu juro! – Disse a mulher de forma rápida e agitada e continuou. – Ela me ajudou quando minha família morreu, me deu um lugar para ficar e me ensinou uma forma de viver, mas assim que me contou o seu segredo para a juventude, eu fugi, por isso estou aqui quase em mendicância oferecendo meu corpo em troca de nada. 

– Olha querida, existe uma forma de você se redimir de ter se afeiçoado a criatura tão terrível, nos conte onde ela se esconde e poderemos dar um fim em sua terrível obra diabólica. – disse Felipe. 

– Ela tem um casebre, mais parece uma tapera na cidade nova, é a única construção de pé perto do mangue. – disse a moça chorosa e com cara de culpa continuou. – Mas ela não é só, tem um filho, terrivelmente feio, mas que a ajuda em seus intentos. 

– Obrigado senhorita, hoje você não vai estar segura, então procura a minha secretária em meu consultório, na rua Direita, depois do paço, número 95, no sobrado. – disse Felipe, e continuou – Diga a ela que um filho da viúva se compadeceu de ti, ela lhe dará uma quantia que vai lhe abrigar em uma estalagem durante alguns dias. Fique lá, e mande um mensageiro de volta comunicando o endereço e o quarto que eu lhe procurarei, vou te ajudar. Até lá, fique escondida. 

Roda dos Esquecidos

Jean e Felipe conseguiram a informação que queriam, então logo ganharam a rua direita, a mais antiga e importante rua do reinado. O armazém de seu padrinho ficava mais a frente, e imaginava que estaria aberto com carroceiros que fazem fretes. Ao chegarem lá encontraram o comércio fechado, com um aviso escrito que Miguel Antônio tinha falecido, que o corpo seria velado na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte ao cair da noite, e que seria sepultado no dia seguinte no Cemitério da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens. Jean se lamentou do quanto Miguel Antônio foi importante em sua vida, mas não havia tempo, então avistou um carroceiro que por providência quase que divina gritava “A onça atacou! Acabou de roubar uma criança da roda dos esquecidos!”. Jean se atirou uns metros a frente da carroça e gritou.

– Pare meu bom homem! Sou oficial da guarda, e se me ajudar podemos salvar essa criança! 

O homem freou os cavalos, e disse. – Está louco homem? Minhas éguas quase lhe pisotearam! Ia me deixar em maus lençóis sendo o senhor do governo. 

– Então me ajude, e terá a consciência tranquila de ajudar uma pobre alma. – Disse Dr. Felipe. 

O homem ponderou e disse para subirem. Jean e Dr. Felipe se ajeitaram na caçamba como podiam, entre tecidos e sacos de grão e disseram para o homem “toca para a cidade nova!”.

A viagem durou cerca de 20 minutos, momentos que pareciam eternos, quando o carroceiro anunciou.

– Olha, eu não sei como vão salvar aquela criança por essas bandas, mas daqui meus cavalos não passam. – disse o carroceiro, e continuou – Choveu e a lama da cidade nova vai prender minha carroça.

–  Obrigado senhor, vamos a pé daqui. – disse Jean saltando da carroça num pulo, acompanhado logo em seguida pelo Dr. Felipe.

O carroceiro manobrou e partiu em disparada dali. A cidade nova era realmente um misto de mangue e charco, tinha uma vegetação rasteira e algumas árvores, via-se algumas trilhas de caminhada e carroça que ligavam as fazendas e sítios da zona norte ao centro. Alguns tentaram construir por alí, mas nenhum povoado vingava, e via-se ruínas e algumas poucas casas abandonadas. Pegaram uma trilha a pé mais a direita, pois levava a borda do mar e o instinto de Jean imaginava que a parte de mangue ficava para lá. Na trilha que fora castigada pela chuva mais cedo, o jovem comissário reparou pegadas frescas, e comentou com o Dr. Felipe que estavam no caminho certo, ao encalço na feiticeira maldita.

O lugar inteiro parecia amaldiçoado, a trilha fazia uma curva considerável a direita, onde tinha uma árvore baixa e retorcida. Caminharam por mais uns dois minutos e Felipe ao levar um susto tropeçou e caiu, a esquerda uma árvore sinistra com a forma do próprio demônio tinha pregado uma peça no médico. A planta aparentemente estava morta, e seus galhos secos na parte superior pareciam chifres, e tinham mais dois galhos que se encontravam com um árvore grande a sua frente, como se uma criatura estivesse se escondendo dos passantes. Jean deu a mão ao Dr. que se levantou e agradeceu.

 

Agora o caminho descia uma pequena ladeira e ao fundo, bem próximo ao mangue via-se um casebre, num misto de paredes de tijolos e taipa, um tipo de madeira cobria o que foi um dia uma janela, a sua estrutura estava bem abalada e o telhado faltando diversas partes e de um dos furos saia uma fumaça branca, como se tivessem queimando folhas verdes, da porta que estava entreaberta via-se uma claridade avermelhada, como se tivesse uma fogueira acesa. Jean fez sinal para Felipe fazer silêncio ao se aproximarem, ao chegarem bem próximo da porta Jean sacou sua pistola, agora estava nítido, ouviram um choro incessante de um bebê, e uma voz horrorosa e rouca dizendo “e agora, com um golpe terei minha juventude!”. Não havia tempo, Jean em um lapso de segundo pensou que teria de ser certeiro, pois sua pistola dragoon só tinha uma bala, pois a outra fora disparada na noite anterior, então chutou a porta e viu uma cena horrível. Uma fogueira queimando ervas ao fundo, um bebê amarrado ao teto pelo pé balançava e se contorcia, e a “onça” se revelava uma mulher terrivelmente feia, muito enrugada, com dentes podres, feridas expostas por todo o corpo, trajava um vestido verde esmeralda com um corselete preto no busto, em sua mão tinha uma adaga de lâmina torta e estava prestes a ferir de morte a criança, quando se assustou com a abertura repentina da porta. Jean não exitou e disparou acertando-a bem no meio da testa.

Sua adrenalina estava a mil, quando lembrou que a prostituta tinha lhe avisado sobre o filho de Bárbara, era tarde demais, ouviu um murmúrio impronunciável e uma faca perfurou seu ombro esquerdo, aparentemente o homem estava do lado de dentro ao lado da porta. Tentou sacar sua espada, mas estava atordoado pela dor, então a deixou cair no chão, quando então vislumbrou seu atacante. Era um homem de aparência deformada, nariz torto, feridas na testa e seus dentes aglutinados em forma de foice, vestia trapos que nem se pareciam com roupas. Jean em manobra de defesa se jogou ao chão, batendo com violência suas costas na parede de taipa, o homem avançou sobre ele quando uma telha de barro caiu sobre a cabeça do deformado, não o feriu muito, mas foi o suficiente para ele perder o foco. Dr. Felipe, que via atônito a cena, aproveitou a desorientação do homem, pegou a espada de Jean ao chão e perfurou o peito do homem, que sem forças cambaleou e caiu fazendo um barulho de saco de batatas. 

– Meu amigo Jean, diga! Está bem? – Perguntou Felipe exasperado.

– Sim, não é dessa vez que virei história. – Respondeu Jean puxando a camisa e mostrando que o ferimento foi apenas no ombro, e continuou. – A criança, tire a criança de lá.

Felipe tirou casaca, desamarrou a criança e a embrulhou em suas vestes, fez um rápido diagnóstico e concluiu que a criança apenas passou por um grande susto. Então pousou a criança na casaca ao lado de Jean, examinou seu ferimento também e lhe improvisou uma tipoia. Ambos não aguentavam mais ficar naquela tapera maldita, então segurando o bebê e apoiando Jean, saíram de dentro do recinto. subiram a trilha um pouco, quando Jean, já um pouco melhor desceu novamente a velha cabana, olhou para os dois corpos, mas logo pegou um pedaço de pau,  e espalhou a fogueira de modo que aquela sinistra residência fosse tomada pelas chamas. Logo após, subiu a trilha e encontrou com o médico. que já mais calmo do susto disse:

– Jean, é uma menina. Já dei-lhe até um nome. Clara, será Clarinha, assim mato a vontade de Mamá ter uma netinha, e eu não preciso casar para ter filhos. – disse o médico satisfeito, enquanto olhava com ternura o rosto da criança, que se acalmava com o dedo na boca.

– Meu nobre amigo, sei que trabalha com saúde mental, mas enquanto ainda me recupero do susto e estou pensando como diabos vamos explicar um bebê, e os nossos ferimentos, você já arranjou um filho e tudo. 

Juntos e caminhando de volta ao centro da cidade deixavam para trás o terrível pesadelo.

FIM.

 

Capa elaborada por Cloves Gregorio, com imagem da Folha de rosto de A Most Certain, Strange and True Discovery of a Witch (1643) retirada do artigo Xilogravuras e Bruxas da página da Penumbra Livros, adicionada a uma imagem de tapera e o título da série. 

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 35 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador e Professor, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, Filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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